quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A relação paciente / psicoterapeuta...

A relação paciente/ psicoterapeuta que se estabelece quando atendemos é muito gratificante. É um aprendizado sempre, troca constante.
Esses dias, próximo de terminar um processo com um paciente ele me disse que nossa relação para ele, se assemelhava a uma relação fictícia retratada por Agatha Christie entre duas personagens de suas obras: Sr. Satterthwaite e Sr Harley Quin.
Ele me contou que a primeira sempre aparecia tentando desvendar crimes, claro são obras de Agatha Christie! E a segunda personagem sempre que aparecia na trama auxiliava de forma sutil e pronto! Sr. Sattertwaite solucionava o caso da vez.
Curiosa fui ler os contos onde essas personagens se relacionavam, e fiquei muito surpresa. Este paciente não sabe exatamente a linha e abordagem que sigo e me especializo. Donald W. Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, em sua teoria que evoluiu a partir da psicanálise, e ao meu ver, vai além em muitos aspectos, nos diz sempre sobre a importância das relações na vida de cada sujeito. Pincelando o cerne de sua produção posso ousar dizer que ao falar da relação entre mãe e bebê ele atentava que a partir desta, todas as outras relações que o sujeito empreender estarão embasadas nesta primeira.
Para Winnicott a terapia se dá também na relação que propiciará ao paciente desenvolver-se emocionalmente, somente nas relações podemos crescer emocionalmente.
Bom, agora sinto ser o momento de citar Agatha Christie:

“ Parecia ser a vez do Sr. Quin falar, mas ele não o fez e alguma coisa em seu silêncio era estranhamente provocativa...” (O misterioso Sr. Quin , 1978,pág 15 – 3ª Edição.)
“Ainda está vivendo no passado, Sr Evesham. Ainda se encontra preso pela sua noção preconcebida . Mas eu, homem de fora, o estranho de passagem só vejo os fatos!” (O misterioso Sr. Quin , 1978,pág 21 – 3ª Edição.)


De maneira muito sutil com seus questionamentos, ou até mesmo seu silêncio, o Sr Quin mostrava ao Sr Sattertwaite os pontos de solução do caso. Na psicoterapia fazemos questionamentos, ligamos acontecimentos e muitas vezes silenciamos, mas quem conclui as situações sempre é o paciente. O interessante é que o “Sr. Sattertwaite” ao solucionar os crimes tenta dar os créditos ao Sr. Quin, mas sabendo que não é ele quem soluciona:

“— Ah! — disse o Sr. Satterthwaite, ansiosamente. — Mas não
posso realizá-los sem o senhor. Falta-me, vamos dizer, inspiração?
O Sr. Quin, sorridente, balançou a cabeça.
— Esta é uma palavra forte demais. Eu diria a deixa, é tudo.” (O misterioso Sr. Quin , 1978,pág 55 – 3ª Edição.)


Para aqueles que nunca passaram por processo psicoterápico, ou para aqueles que passaram mas a relação não foi das melhores... psicoterapia é assim se dá na relação e o resultado depende do quanto o paciente está disposto a dar de si, pois o psicoterapeuta já está ali por profissão.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Medo de dirigir

O medo de dirigir como as outras fobias apresenta alta carga de ansiedade. Para aplacar tal medo é necessário que a segurança em si mesmo seja conquistada pelo indivíduo.
A psicoterapia é uma das formas, se não a mais eficaz, para que o indivíduo desenvolva sua habilidade de dar um voto de confiança a si mesmo. O medo é cortante para quem o sente pois, ele paralisa e nos deixa sem opções. É tão difícil buscar novas alternativas e ser criativo quando se está com medo...
Simbolicamente “estar na direção”, “ser o condutor” pode trazer a muitos pela primeira vez a idéia de direção que sua vida pode ter tomado, do sujeito como autor de sua história, o que pode para outros tantos pode significar um sinal vermelho. Este “PARE!” que o medo nos impõe nos garante viver, assim como um animal coagido por seu predador poderá lutar ou fugir como reação ao externo, o medo nos garante um lugar seguro, onde eu não precisarei (não posso porque tenho medo) me arriscar.
De fato o medo de dirigir ou qualquer outro medo tem muitas outras nuances, nunca será para um como é para o outro. O jeito de vivenciar o medo também pode ser diferente, claro cada um tem em si suas particularidades, sua história individual...
Contudo o medo e todas as outras questões ligadas ao tema dizem de nós mesmos, o quanto podemos ou não tomar as rédeas das nossas vidas e fazer delas o que bem quisermos.